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sexta-feira, 25 de março de 2011

2) OS ATAQUES

Eu e o cinegrafista Leonardo Texeira saímos de Botafogo com destino à região onde os ataques estavam concentrados: a Zona Norte do Rio.

Minha missão era cobrir o chamado "entorno" das favelas. Mostrar como estava o dia dia de quem vive e trabalha ao redor dos morros ocupados pelos traficantes que promoviam a onda de ataques. Começamos a tentar fazer entrevistas com comerciantes, a maioria com muito medo de se expor diante de uma câmera. 
Tentava convencer um deles quando um morador passou gritando: "há tanques na rua, vai começar a guerra!". Pegamos o carro e corremos em direção ao "olho do furacão". 

 À medida que nos aproximávamos, a multidão aumentava, eram pessoas de todas as idades, algumas estavam vestidas para ir trabalhar, outras pareciam que tinham saído correndo de casa. Todas olhavam em direção a algo que ainda não conseguíamos identificar o que era. Víamos apenas as expressões delas, de susto, espanto. Não agüentei, desci do carro e fui correndo em direção à multidão. 

Quando me aproximei, me tornei mais uma com a expressão de susto, espanto, choque: a Avenida Brás de Pina, umas principais da região, estava fechada. No lugar de carros, tanques de guerra ocupavam a via. Homens das Forças Armadas e da polícia circulavam lado a lado. Todos com o rosto pintado prontos para a guerra que estava prestes a começar. Eles se preparavam para tomar a Vila Cruzeiro, uma das favelas mais violentas da cidade, até então território proibido para a polícia e, para nós, repórteres.

Assim que os tanques começaram a se mover, muitos moradores (e jornalistas) procuraram abrigo, afinal a expectativa era de um tiroteio enorme. Eu fui parar em um bar na entrada da favela. O local estava lotado e pela televisão, todos passsamos a acompanhar o início da tomada. As barricadas intransponíveis para o Caveirão, o carro blindado da polícia, eram destruídas pelos blindados da Marinha. Depois de assistir à cena, não agüentei mais ficar parada, "peguei" o bravo Léo, meu cinegrafista, e partimos para a rua que a esta altura estava deserta.

Apenas um ônibus circulava, fizemos sinal, entramos e, supresa, não havia ninguém, nem um único passageiro. O motorista e a trocadora estavam atônitos, sem saber direito o que estava acontecendo. Contaram que as poucas pessoas que estavam no ônibus desceram correndo depois de receberem ligações no celular. Eles ficaram, mas por pouco tempo. Dez minutos depois de entrarmos no ônibus, eles receberam a orientação de voltar para a garagem por medida de segurança. Fizemos uma gravação dentro do veículo e depois seguimos para a garagem, lá registramos as filas de ônibus que estavam voltando. 

No entorno, comerciantes fechavam as portas. Fomos entrevista-los e um deles me chamou atenção. Ele contou que era a terceira vez que estava fechando naquela semana, o prejuízo era enorme, mas ele estava feliz. Perguntei o porquê e ele contou que soube que a políca estava entrando na Vila Cruzeiro, esperava que isso significasse algo diferente que, dessa vez, eles entrassem para ficar.

O endereço virtual da matéria que segue abaixo tem um pouco de casa personagem, de cada passagem desse dia histórico. Minha missão no dia era registrar a reação dos moradores, precisava ficar no "asfalto" para captar a reação de quem vive ou trabalha nas áreas atingidas. Acredito que conseguimos.
http://www.youtube.com/watch?v=HNCMrwCRhxA

ESTA HISTÓRIA CONTINUA EM "O MORRO DO ALEMÃO"

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