A denúncia era de superlotação no Hospital Geral de Bonsucesso, que fica na zona Norte do Rio e pertence ao Governo Federal. Pacientes estariam dormindo no chão da Emergência da unidade. A informação era boa, no entanto, esbarramos na dificuldade de fazer imagens dentro do hospital. Nós, equipes de TV, não podemos passar da porta de qualquer hospital, especialmente público. Somos barrados por seguranças que, se precisar, usam até violência para impedir a nossa entrada. Então, como fazer?
Ligamos para o Sindicato dos Médicos que confirmou a denúncia e ofereceu uma alternativa: eles poderiam nos dar o nome de um dos pacientes que estava internado na emergência. A equipe tentaria entrar no horário reservado às visitas usando o nome dele. A orientação era de que a pessoa que fosse fazer a tentativa falasse que ia até a emergência fazer uma oração a pedido da família, o que é comum em casos como esse. E quem foi escolhida para tentar entrar? A repórter que vos fala.. Vesti uma calça jeans surrada, blusa bem larga, sandália de dedo, cabelo preso, celular na mão e lá fomos nós...
Cheguei no hospital no início do horário de visita. Uma funcionária estava com a lista dos pacientes na mão distribuindo as senhas. Eu dei o nome do paciente que o Sindicato tinha me passado e quando me preparava para receber a senha fui surpreendida pela filha dele que estava ao meu lado indignada (não sem razão): "Minha família não pediu oração nenhuma! Quem é você?", indagava em voz alta atraindo a atenção de quem estava na sala, inclusive da segurança. Não tinha saída. Puxei a mulher para o canto e contei a verdade." Sou repórter, estou tentando entrar no hospital para registrar a superlotação. A idéia é ajudar, tentar mudar essa situação ". A filha do paciente se acalmou e para meu alívio concordou em me ajudar. "Realmente a situação lá dentro está crítica. Faz o seguinte: eu vou visitar meu pai, fico meia hora, depois saio e te dou a senha".
Trato feito, esperei a minha hora. Ao entrar, confirmei o que a denúncia apontava: pacientes aguardavam atendimento em macas espalhadas pelo corredor e até mesmo no chão. Com um celular na mão, fiui fazendo as imagens. Mas precisava de mais. Tinha que ouvir parentes e pacientes. Foi então que avistei uma mulher sentando na maca de uma senhora conversando. Me aproximei e para justificar a conversa lembrei da tal história da oração, e ofereci: "Oi, vocês gostariam de uma oração?". Na hora, as duas mulheres concordaram. Eu, então, puxei o assunto do hospital: "Antes, me contem como estão as coisas por aqui? Há muitos problemas?". As duas relatataram uma série de dificuldades, falta de medicamentos e até de lençol e gaze. Gravei os depoimentos, agradeci e quando me preparava para ir embora, a filha da paciente indagou "E a oração?". Eu não sou uma pessoa religiosa, fui batizada na Igreja Católica, mas raramente vou à missa. Também só frequentei cultos evangélicos a trabalho, portanto nunca tive a intenção de fazer a oração. Era só a maneira de conseguir chegar até os pacientes. No entanto, lá estava eu diante das duas mulheres que, com os braços abertos e palmas da mão para cima, aguardavam a minha oração. O que fazer? Se eu revelasse a verdade, corria o risco de ser denunciada lá dentro e ter o celular tomado das mãos.
Dei a mão à elas e, de olhos fechados, falei o que me passava pela cabeça. Acho que misturei Nossa Senhora com Glória Deus. Só sei que quando terminei, as duas me olhavam com uma cara de espanto que denunciava que a minha oração tinha fugido do comum. Sem dar tempo para elas reagirem, agradeci e saí rapidamente do hospital ainda sem acreditar no que tinha feito.
A matéria foi ao ar, teve boa repercussão e espero que tenha ajudado a melhorar a situação daqueles que lá estavam e que tantas vezes precisam apelar para os céus em busca de ajuda..
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