Foi numa segunda-feira, 13 de junho, quando recebi a "missão" de fazer uma matéria sobre o tema. Mas faltava o que nós, jornalistas, chamamos de "personagem", alguém que ilustre, que sirva de exemplo sobre o caso que queremos mostrar. Como sem o tal personagem, eu não conseguiria fazer a matéria, propus para o meu chefe adiar a reportagem para o dia seguinte. Para o dia, eu podia aproveitar que era dia de Santo Antônio e fazer a matéria sobre um dos santos mais queridos e populares do Brasil.
Ele topou e parti para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde o dia 13 de junho é feriado em homenagem ao santo casamenteiro.
Estava na porta da igreja, fazendo entrevistas, quando fui abordada por um homem na faixa dos 40 anos, mal vestido, mas extremamente bem educado e articulado. Ele contou que era vendedor de sapatos, mas tinha largado tudo por causa das drogas. A esposa, também dependente química, seguiu o mesmo caminho e abandonou a faculdade de psicologia pelo crack. Os dois estavam na porta da igreja porque não tinham mais para onde ir, venderam casa, carro e até roupas para comprar droga.
A mulher, chamada Priscila, me chamou ainda mais atenção. Ela vem de uma família de classe média, é filha de um policial,. Magra, cabelos loiros, aos 33 anos, seria uma linda mulher se tivesse os mesmos cuidados que nós temos, mas o corpo agora estava castigado pelo uso contínuo das drogas. Teve dois filhos e acabou deixando-os com os pais, sabia que assim eles estavam melhor.
Os dois chegaram ao fundo do poço e tinham noção disso. Queriam ser internados em um abrigo público e perguntaram se eu poderia ajudá-los. Eram exatamente o eu que precisava para fazer a matéria, tinha encontrado os personagens na hora que deixei de procurar.
Expliquei aos dois o assunto da reportagem e perguntei se eles poderiam dar entrevista. Eles toparam na hora. Diferentemente do que acontece na maioria dos casos, o casal não pediu para esconder o rosto, nem para distorcer a voz. Pelo contrário, aceitaram e quiseram aparecer de cara limpa. E assim contaram a história da vida deles, com uma coragem e clareza que me impressionaram. No fim, fizeram um apelo para que outras pessoas não caíam na cilada que eles caíram. "Você acha que está usando a droga, mas no fim, é ela que te usa. Você vira uma marionete", alertou o homem.
Infelizmente, na TV, o tempo é curto e apenas uma pequena parte da longa entrevista foi ao ar. Mas, ainda assim, é suficiente impressionar aqueles que a assistirem, assim como me impressionou.
Quando cheguei na redação com a história, minha chefe sugeriu ligarmos para a secretaria de Assistência Social para tentarmos conseguir uma vaga em um dos três centros públicos de tratamento. O problema era que eles não estavam com telefone, tnham vendido até o celular para comprar drogas...






