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domingo, 19 de junho de 2011

"Eu preciso me internar"

Nós, jornalistas contamos histórias todos os dias. A maioria passa, poucas ficam. Esta, que segue abaixo, é uma delas. A reportagem fala de uma epidemia que vem assolando a maioria das cidades brasileiras: o crack.



Foi numa segunda-feira, 13 de junho, quando recebi a "missão" de fazer uma matéria sobre o tema. Mas faltava o que nós, jornalistas, chamamos de "personagem", alguém que ilustre, que sirva de exemplo sobre o caso que queremos mostrar. Como sem o tal personagem, eu não conseguiria fazer a matéria,  propus para o meu chefe adiar a reportagem para o dia seguinte. Para o dia, eu podia aproveitar que era dia de Santo Antônio e fazer a matéria sobre um dos santos mais queridos e populares do Brasil.

Ele topou e parti para Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde o dia 13 de junho é feriado em homenagem ao santo casamenteiro.

Estava na porta da igreja, fazendo entrevistas, quando fui abordada por um homem na faixa dos 40 anos, mal vestido, mas extremamente bem educado e articulado. Ele contou que era vendedor de sapatos, mas tinha largado tudo por causa das drogas. A esposa, também dependente química, seguiu o mesmo caminho e abandonou a faculdade de psicologia pelo crack. Os dois estavam na porta da igreja porque não tinham mais para onde ir, venderam casa, carro e até roupas para comprar droga.

A mulher, chamada Priscila, me chamou ainda mais atenção. Ela vem de uma família de classe média, é filha de um policial,. Magra, cabelos loiros, aos 33 anos, seria uma linda mulher se tivesse os mesmos cuidados que nós temos, mas o corpo agora estava castigado pelo uso contínuo das drogas. Teve dois filhos e acabou deixando-os com os pais, sabia que assim eles estavam melhor.

Os dois chegaram ao fundo do poço e tinham noção disso. Queriam ser internados em um abrigo público e perguntaram se eu poderia ajudá-los. Eram exatamente o eu que precisava para fazer a matéria, tinha encontrado os personagens na hora que deixei de procurar.

Expliquei aos dois o assunto da reportagem e perguntei se eles poderiam dar entrevista. Eles toparam na hora. Diferentemente do que acontece na maioria dos casos, o casal não pediu para esconder o rosto, nem para distorcer a voz. Pelo contrário, aceitaram e quiseram aparecer de cara limpa. E assim contaram a história da vida deles, com uma coragem e clareza que me impressionaram. No fim, fizeram um apelo para que outras pessoas não caíam na cilada que eles caíram. "Você acha que está usando a droga, mas no fim, é ela que te usa. Você vira uma marionete", alertou o homem.

Infelizmente, na TV, o tempo é curto e apenas uma pequena parte da longa entrevista foi ao ar. Mas, ainda assim, é suficiente impressionar aqueles que a assistirem, assim como me impressionou.

Quando cheguei na redação com a história, minha chefe sugeriu ligarmos para a secretaria de Assistência Social para tentarmos conseguir uma vaga em um dos três centros públicos de tratamento. O problema era que eles não estavam com telefone, tnham vendido até o celular para comprar drogas...


sexta-feira, 10 de junho de 2011

O acidente da Gol e a busca pelos pilotos americanos

Em outubro de 2006, 154 pessoas morreram em um acidente entre o vôo 1907 da Gol, que seguia de Manaus para o Rio, e um jato Legacy da empresa americana ExcelAire. Todas as vítimas estavam no avião. Os pilotos do jato, os americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino nada sofreram, mas durante quase dois meses ficaram impedidos de deixar o País. O local onde eles aguardavam uma decisão da justiça foi mantido em sigilo até que tivemos a informação de que os dois estavam em um hotel de luxo na Praia de Copacabana, que pertecence à uma rede americana. Um esquema de segurança equivalente a de uma celebridade foi montado na tentativa de "blindar" os pilotos e eu fui escalada para me hospedar no hotel com uma câmera escondida para tentar registrar uma imagem dos dois ou, ao menos, confirmar a informação de que era lá mesmo que eles estavam.

Esse tipo de cobertura, em geral, é feito por produtores, jornalistas que não aparecem no vídeo e assim podem circular sem serem notados. Eu, nessa época, já trabalhava como repórter, o que tornava minha "missão" ainda mais difícil.

Ciurculando pelas áreas comuns do hotel fiz algumas descobertas. Uma delas era que o professor de ginástica da academia do hotel tinha perdido um parente no vôo. Ironia do destino, entre tantos hotéis na cidade, os pilotos tinham escolhido justamente aquele onde um dos funcionários estava diretamente ligado ao acidente. O homem estava revoltado com toda a situação e, durante a conversa me deu algumas notícias: 1) os pilotos realmente estavam hospedados lá 2) um andar inteiro tinha sido fechado e era proibido circular por lá 3) eles dificilmente saíam do andar . O quê fazer, então?

Jornalista é um ser insistente na sua essência, eu ainda tenho agravante de ser mulher, geminiana e apaixonada pela profissão.. Resumindo, posso ser extremamente chata e persistente a tal ponto que resolvi subir de escada os 16 andares que separavam o andar dos pilotos do meu. Câmera escondida acionada, ao chegar no andar dos dois encontrei dois (!) seguranças responsáveis apenas por vigiar o corredor.
Consegui fazer imagens deles antes que me vissem. Logo que me avistaram, comunicaram que era proibido circular por ali, me fiz de turista acidental, perguntei se havia alguma celebridade hospedada e eles negaram.

Já tinha garantido material para a reportagem do dia que relatava, entre outras notícias, exatamente como era esse esquema reforçado de segurança em torno dos pilotos americanos. O problema foi que gostaram tanto do material que, no lugar de me liberarem, pediram para ficar mais um dia hospedada no hotel para tentar pegar algo mais.

O único porém foi que, depois que a matéria foi ao ar, o esquema de segurança que já era pesado, virou uma fortaleza. No dia seguinte, ao abrir a porta da escada do andar onde estavam os pilotos, em vez de encontrar dois segurança, me deparei com seis brutamontes, entre eles um que deveria ser o coordenador e não estava nada feliz em ver a jornalista responsável por burlar todo o esquema montado. Ao me ver, ele estendeu a mão e disse secamente "Olá jornalista Mariana Procópio. Sei que você está com uma câmera escondida e posso mandar prendê-la por isso".

Respondi que achava que, se alguém devia ir para cadeia naquela situação, dificilmente seria eu, e sim os pilotos que ele tentava proteger. Peguei minhas escadas de volta e deixei o hotel. Poucos dias depois, saíram também os pilotos americanos, que na volta para os Estados Unidos foram recebidos como heróis.

Somente agora, em maio de 2011, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino foram julgados pela justiça brasileira. Os dois foram condenados a prestar serviços comunitários pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo. Eles poderão cumprir a pena  nos Estados Unidos, onde vivem atualmente. Paladino trabalha na companhia American Airlines, e Lepore continua na empresa de táxi aéreo ExcelAire, proprietária do Legacy. Ainda cabe recurso da decisão.

Com crianças durante plantão na casa de um ex-vereador preso pela polícia


quarta-feira, 1 de junho de 2011

A cobertura do vôo da Air France

Cá estou em mais um plantão. Começo a manhã em frente a casa de um ex-vereador acusado de envolvimento com o jogo do bicho. Eu e toda a imprensa esperamos a saída dele do apartamento algemado, esperamos e esperamos.. há quase três horas. E nessa espera  lembro que há exatos dois anos, a esta hora, estava em uma correria frenética pelo Aeroporto Internacional para cobrir o acidente com vôo da Air France.

Fui a primeira equipe a chegar na redação daquela segunda-feira. Assim que entrei, soube que um avião tinha desaparecido do radar e só. Lembro que estava escalada para fazer uma matéria sobre a obrigatoriedade de tocar o Hino Nacional nas escolas do município (as grandes histórias não acontecem todos os dias). Diante da informação, mudamos o rumo e seguimos para o Galeão.

No aeroporto, parecia que nada tinha acontecido. O balcão da Air France estava fechado, os corredores vazios até que a notícia foi confirmada: o avião tinha caído. Telefones tocando a todo instante, entrada para rádio, para TV, enquanto encarava a difícil missão de abordar os parentes que chegavam em busca em informações.

Aos poucos, as vítimas ganhavam rostos a medida que conhecíamos as histórias de cada uma:  a família que viajava junto, o casal que estava em lua de mel, o engenheiro que seguia para África, o jovem comissário de bordo brasileiro que tinha um futuro promissor...

Seguindo a cartilha de "gerencimento de crises", a Air France montou uma base para atendimento aos parentes em um hotel na Barra da Tijuca (desta forma, diz a regra, a imagem da companhia fica "menos desgastada", já que se desvincula do centro da crise). Mas o que parecia certo para a empresa, foi extremamente desgastante para nós, jornalistas, e para as famílias das vítimas também, já que as entrevistas eram feitas na porta do hotel, no meio do empurra empurra, sem a calma e o cuidado que uma situação como essa exigiam.

 Por tudo isso, muitos parentes evitavam dar entrevistas, mas mesmo aqueles que se recusavam falar, nos procuravam, sem as câmeras e sem o microfone,  para entregar fotos dos parentes. Queriam divulgar a imagem de quem se foi, como uma espécie de homenagem, acredito eu.. Uma entrevista em especial me marcou: foi a do pai de um engenheiro que estava no vôo, que mesmo diante de todas as probilidades, ainda mantinha a esperança de encontrar o filho vivo. Nelson Freitas Marinho hoje é presidente da associação de parentes das vítimas do vôo..

Em breve, vou postar a entrevista aqui, assim que terminar o plantão..

terça-feira, 17 de maio de 2011

Corrida Alemão

Corrida do Morro do Alemão: participando e trabalhando (detalhe para a câmera na mão). As fotos são do fotógrafo Alexandre Vieira


Esta foi tirada pouco antes da corrida: eu e o cinegrafista João Souto

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Do alto do Alemão


Este vídeo foi feito no alto do morro que divide os Conjuntos de favelas do Alemão e da Penha.
Profissionalmente, foi bem bacana, mas como experiência pessoal foi incrível ! Todos os participantes juntos no mesmo clima de união,assim como pos moradores que da porta das casas incentivavam os atletas. ..

Na corrida do Alemão



Corrida do Alemão.  A idéia era cobrir a corrida de quase cinco quilômetros, que começa na Vila Cruzeiro e termina no Morro do Alemão. É o mesmo caminho feito pelos bandidos para fugir quando a polícia tomou a Vila Cruzeiro, em novembro de 2010. Mas em lugar de apenas registrar o fato, por quê não participar? Com uma câmera na mão e algum fôlego, lá fomos nós! No caminho, encontrei até com o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que também participou da prova e deu uma entrevista exclusiva. O resultado está nos vídeos que seguem!